Fiction made up
terça-feira, 21 de janeiro de 2014
A Última Missão (fim)
Conduzo
o carro dele vários quilómetros para fora da cidade. Sigo por trilhos de terra
batida e em poucas horas estou no meio do deserto. Saio do carro e olho à minha
volta. Não se vê uma réstia de civilização em lado nenhum. Apenas planícies de
terra vermelha para onde quer que se olhe. Abro a mala do carro e tiro o homem
imobilizado por várias camadas de fita adesiva. Ele ainda conserva o olhar de
puro terror quando olha para mim. Instalo-o no banco do condutor e prendo-lhe
as mãos ao volante. Quando estou confiante de que ele não vai a lado nenhum,
retiro-lhe o pedaço de fita adesiva da boca. Ele não diz nada, apenas fica a
olhar para mim com aquele ar aterrorizado. Acendo um cigarro do maço que
encontrei no porta luvas e dou uma grande passa. Estava mesmo a precisar. Tiro uma navalha do bolso e rodo-a nas
mãos. É como andar de bicicleta… Na
longa meia hora que se passou a seguir, ele diz-me tudo o que eu precisava de
saber. Como a minha filha morreu ainda em casa e o seu corpo enterrado neste
mesmo deserto. Como a polícia estava a postos perto da casa do homem que eu era
suposto matar, pronta para me pôr na cadeia durante o resto da minha vida. Como
eu matei ambos os seus pais há não sei quantos anos e que isto era a sua
vingança. Ao fim dessa meia hora ele está a implorar-me para o matar. Faço-lhe
a vontade e corto-lhe a garganta. Não sinto nada. A minha mulher e filhas
mortas por minha causa. O meu passado alcançou-me mesmo e roubou-me tudo. Pego
na pistola e encosto o cano à têmpora. Não sinto nada.
segunda-feira, 20 de janeiro de 2014
A Última Missão (cont.)
Estaciono
a mota a um quarteirão de distância da casa e vou o resto a pé. Enquanto ando,
sinto a pistola de 9mm que tirei de um dos baús no fundo das minhas costas,
presa pelas calças. Num dos bolsos do casaco um silenciador e no outro um rolo
de fita adesiva. Todos estes objetos dão-me uma sensação de segurança. Examino
a casa a uma distância segura. Está velha e decrépita, tal como todas as outras
à sua volta. Vou para as traseiras e monto o silenciador na minha Beretta. Uma
das janelas não está trancada e é por aí que eu entro. Ouço o som abafado da
televisão e movo-me silenciosamente nessa direção. Ao entrar na sala, deparo-me
com um sujeito de aspeto normal, sentado no sofá a ver uma série televisiva
qualquer. Ele olha repentinamente para mim ao sentir a minha presença e eu
aponto-lhe a 9mm à cabeça, fazendo sinal com a outra mão para ele não fazer
barulho. Ele está visivelmente aterrorizado, a olhar diretamente para mim como
um veado encadeado por faróis.
-
Onde está a minha filha? - pergunto o mais calmamente possível.
-
Eu- eu não sei d-do que e-estás a falar. - ele tenta mentir.
Mas
eu reconheço-lhe a voz. A voz que ele não se lembrou de disfarçar na última
chamada que fez.
domingo, 19 de janeiro de 2014
A Última Missão (cont.)
Começo
a ligar várias engenhocas e monitores. 5 minutos depois está tudo pronto.
Pronto para localizar a próxima pessoa que me ligar para o detestável
telemóvel. Acedo à lista de contactos e ligo para o único número gravado sob o
nome de "Patrão". Deixo tocar apenas uma vez e desligo, esperando que
ele apanhe o isco. Nem 30 segundos passam e recebo a chamada. Um último olhar
aos monitores indica-me que está tudo em ordem. Atendo o telemóvel e uma voz diferente
berra comigo, incrédula e em pânico.
-
Está feito?! Como é que é possível?! - Pergunta-me. Consigo perceber que é o
mesmo homem, mas sem o disfarce de voz. Ele deve estar realmente muito nervoso
para se esquecer desse importantíssimo pormenor.
-
Não, não está feito. - respondo cautelosamente - Eu… Eu quero ouvir a voz da
minha filha antes de o fazer.
O
homem ainda se enerva mais.
-
O quê??! Ligaste por causa disso??! - ele grita tão alto que até faz distorção
- Tu mata esse gajo antes que eu mate a tua filha!! A próxima vez que me
ligares é bom que ele esteja morto!!
A chamada cai e eu olho
para o monitor. Uma pequena cruz pisca em cima de um mapa. Uma casa num bairro
não muito longe daqui. Olho para a R6. Um vislumbre de um sorriso percorre-me a
face. Consigo estar lá em 10 minutos.
sábado, 18 de janeiro de 2014
A Última Missão (cont.)
A voz disfarçada desliga o telefone e eu volto
para a minha mesa e peço uma dose substancial de comida, apesar de não ter dinheiro
nenhum comigo. Vou precisar de muita energia para esta tarefa. Acabo a refeição
e dirijo-me de novo à casa de banho, sob o olhar desconfiado da empregada.
Sinto-me um pouco mal porque naquele tempo todo ninguém mais tinha entrado no
café e eu acabei de fugir a uma conta de mais de 15€. Enxoto este pensamento e
esgueiro-me pela pequena janela na casa de banho. Tenho de caminhar vários
quilómetros até onde preciso de ir, outrora um parque de estacionamento, agora
é uma zona de arrecadações privadas, centenas delas. Quando chego à minha, olho
à volta à procura de olhares suspeitos. Não vejo ninguém, retiro a pequena
chave do bolso e abro o cadeado. Abro apenas uma frincha na porta e entro. Está
exatamente como eu a deixei. Dois baús enormes repousam no chão encostados à
parede, ao seu lado uma secretária com um pano tapando vários equipamentos
informáticos. Na parede oposta, a R6 com a chave na ignição parece impaciente. Como
eu adoro esta mota! É a contemplá-la que tenho uma ideia. Ninguém sabia da
existência desta arrecadação. Eu pago a renda em dinheiro e com um nome falso.
Olho para o todo o equipamento eletrónico na mesa. Será que ainda sei trabalhar
com aquilo?
sexta-feira, 17 de janeiro de 2014
A Última Missão (cont.)
Ao
longo dos seguintes 10 anos devo ter assassinado cerca de 300 pessoas, talvez
mais, todas desconhecidas. Poderiam ter cometido o crime mais hediondo ou então
simplesmente terem irritado a pessoa errada. Não sei. Não fazia perguntas.
Apenas recebia as ordens. Nunca conheci o meu empregador, apesar de ser pago
muito generosamente ao fim de cada "missão", como lhes chamávamos. Saí
daquela vida quando conheci a minha mulher. Falecida
mulher. Mudei de nome, casa, etc. Mudei para uma nova vida, é incrível o
que dinheiro suficiente consegue comprar. Mas agora parece que o passado voltou
para ajustar contas comigo. Todas as barbaridades que fiz, finalmente estava a
pagar por elas.
-
Ainda aí está, Sr. Ferreira? - pergunta a voz disfarçada, trazendo-me de volta
ao presente.
-
Sim… Estou.
-
Ótimo, penso que já estamos entendidos por isso vou deixar-me de rodeios. A sua
missão é eliminar o presidente da Crow Incorporated. Hoje ele estará sozinho na
sua casa na rua… - a minha mente divaga enquanto ele fala, embora consiga
apanhar toda a informação necessária. Eu não faço mal a ninguém há cerca de 7
anos. Como é que conseguiria assassinar aquele homem a sangue frio? Tenho que
conseguir, a vida da minha filha está em jogo.
quinta-feira, 16 de janeiro de 2014
A Última Missão (cont.)
Talvez fosse apenas a
minha imaginação, pensei enquanto corria para casa. Nunca um homem tão bem vestido estaria
naquele bairro. Entrei na roulote, ignorando o meu pai desmaiado no chão ao
lado da garrafa vazia de Johnnie Walker. Entrei no apertado quarto de banho e
lavei as mãos minuciosamente, como se para me lavar do que tinha feito. Não sei
há quanto tempo estaria naquela tarefa, quando umas pancadas se fizeram ouvir
na porta. Sequei as mãos e espreitei pela janela e o meu coração subiu-me à
garganta. Era o homem de fato que eu tinha visto. Não era imaginação minha, ele
era bem real e ali estava à porta da minha roulote. Abri a porta, temendo que
ele fosse um polícia, mas também sabendo que não havia escapatória.
-
Boa tarde, jovem. Quero oferecer-lhe um emprego.
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